unidades habitacionais samambaia

Categoria: Concurso público nacional de habitação coletiva | Cliente: N/A | Endereço: Distrito Federal, Brasil | Área do projeto: N/A | Ano do projeto: 2016

Equipe: MARCOZERO Estudio e República Arquitetos | Fotos: N/A

IMPLANTAÇÃO E ESPAÇO PÚBLICO | A proposta destes edifícios de habitação coletiva para Samambaia se define a partir da implantação, justamente naquilo que explora – oferece e aproveita – em relação ao entorno urbano. Ao mesmo tempo em que busca construir o maior número possível de unidades habitacionais, respeitado o princípio da economicidade, sobretudo ao evitar subsolos dispendiosos, constrói um vazio interno que, além de seu valor para o conjunto, torna-se, por decisão de projeto, espaço potencialmente urbano, contribuindo na construção da paisagem da cidade.

TOPOGRAFIA E ESPACIALIDADE | São dois os térreos. Optou-se por aproveitar o desnível do terreno e abrir dois planos de relação com a cidade, térreo superior e térreo inferior, integrados verticalmente, iluminados e ventilados pelo espaço livre que circunscreve o primeiro, o que lhe concede grande expressão arquitetônica. Essa base do edifício, essencialmente livre, além de conter os acessos por meio de rampas suaves, permite a implantação da área permeável como um jardim, continuidade do terreno natural que o circunda, destinado às áreas verdes permeáveis locais.

O PÁTIO | Todo o conjunto se desenvolve a partir desta espacialidade interior. Desenvolvido em planta, o vazio adquire grande presença no interior do conjunto, na forma de pátio onde se localizam as atividades mais públicas, ou de maior sociabilidade como as circulações coletivas e o lazer no rés-do-chão. O vazio central, além da transparência interna que permite aos moradores se entreolharem, incorpora ao cotidiano os elementos quase sempre ausentes como escadas e elevadores que animam essa paisagem interna.

ARTICULAÇÃO, CIRCULAÇÕES E INFRAESTRUTURA | Um núcleo com elevador e escada enclausurada protegida (EP) conecta todos os pavimentos desde a garagem no subsolo, cumprindo os pré-requisitos da NBR 9077. Além disso, propõe-se mais um grupo de escadas aberto, secundário, espécie de passeio arquitetônico, que incorpora no desenho do percurso cotidiano o vazio central, acentuando sua presença. Todas as redes de infra-estrutura se distribuem para as unidades com instalações na parte inferior das passarelas e espaços verticais externos especializados (shafts). A cobertura, além de concentrar os reservatórios superiores, presta-se a uma área de uso condominial descoberta, importante como alternativa de lazer.

GARAGEM | Tendo em vista a exigência de uma vaga de automóvel para cada unidade, a exiguidade do terreno, e ainda o princípio da economicidade, adotou-se a solução de dois níveis independentes de garagem, um no térreo inferior e outro no subsolo, cada um com seu acesso, tirando partido da topografia para eliminar rampas internas que reduziriam o rendimento do conjunto. Algumas vagas de ingresso rápido, situadas no jardim frontal, completam a soma. A finalidade da edificação justifica tirar o máximo proveito do Decreto 33.740/2012, § 2º do Art. 139A, que estabelece: “excepcionalmente, nos lotes com até quatrocentas vagas pode ocorrer mais de um acesso de veículos, desde que obtida anuência prévia da Secretaria de Estado de Habitação”.

UNIDADES | Duas faixas funcionalmente distintas organizam as unidades: uma para os ambientes de permanência prolongada, de planta livre; e outra, paralela às circulações de acesso, para as áreas molhadas, racionalizando as instalações hidrossanitárias. A abertura de todos os ambientes permite ventilação cruzada, garantindo a qualidade ambiental. A área da unidade é otimizada com a eliminação de espaços exclusivos de circulação: os dormitórios abrem-se diretamente para o ambiente da sala em ambos os lados; e a sala é conjugada com o espaço da cozinha, ladeada pela área de serviço e pelo banheiro. Os três ambientes principais se relacionam com uma varanda em toda extensão do apartamento, ampliando a área da unidade.

CONSTRUÇÃO E TECTÔNICA | A construção foi pensada a partir da racionalização e da agilidade construtiva, apoiando-se na lógica modular para permitir diversos níveis de pré-fabricação ou industrialização, objetivando redução de custos e tempo de implantação. A linguagem do conjunto está estreitamente vinculada à renovação do debate sobre tectônica, explorando o potencial de expressão construtiva da arquitetura, capaz de reunir aspectos materiais e construtivos aos aspectos culturais e estéticos. Não há revestimentos; as estruturas serão tratadas e aparentes, enfatizando a integridade como qualidade da edificação; outros elementos construtivos, móveis ou removíveis, evidenciarão suas juntas e poderão ter cor, conferindo leveza ao conjunto.

CONFORTO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE | Foram consideradas as discussões mais atuais sobre práticas de projeto e construção que possam reduzir ou eliminar significativamente os impactos negativos do edifício em seus ocupantes e no meio ambiente, assim como as questões de qualidade e desempenho estabelecidas pela norma NBR 15575. Por exemplo, a sombra e a ventilação são entendidas como recursos estratégicos essenciais. No que se refere à iluminação natural, foi feita avaliação, por meio de simulações, para os planos horizontais nos períodos da manhã (9:30h) e da tarde (15:30h), respectivamente, para os dias 23 de abril e 23 de outubro, comprovando nível de iluminação superior ao mínimo exigido em todos as simulações.

LOTES 02, 03, 04 e 05 | Os ajustes necessários para o projeto do Lote 01 (QR 503 CJ 9A LT 04) se adequar aos outros 4 lotes, considerando especificidades topográficas, vizinhança, orientação solar etc., são mínimos. O conjunto proposto organiza-se, inicialmente, em quatro volumes articulados por circulações externas, configurando dois grandes blocos paralelos ao redor de um pátio central. É possível manter a volumetria e o mesmo número de unidades em todos os lotes. Para isso é preciso apenas uma pequena variação na largura do pátio, viabilizando a inclusão de recuo nos casos em que se torna obrigatório algum afastamento das fachadas voltadas para logradouro público (Art. 65 do PDL). Na prática, é possível a replicação do projeto em todos os terrenos.